- Claro, chefe.
- Diga.
- Sérgio, você sabe que… bem, você não sabe… mas nós instalamos recentemente nos computadores do escritório um software que mede o uso que as pessoas fazem da nossa internet.
- Não sabia… chefe.
- Pois então, Sérgio. Feche a porte ali, por favor.
- Este calhamaço aqui… estas 934 páginas que eu estou segurando… e só consigo segurar porque faço academia quatro vezes por semana… o que você acha que é isso?
- Chefe… nunsei… é…
- Faça sua aposta… chute…
- É… hmm… bem… o relatório do que eu… faço… na…
- Continue… você está indo bem…
- … na internet… aqui… no trabalho?
- Chefe?
- Não, Sérgio. Estas 934 páginas são o meu livro de endereços do Facebook que eu imprimi. O relatório da sua atividade na internet durante o trabalho não preenche nem um post it.
- Chefe… eu…
- No mês de junho, Sérgio, você ficou exatamente trinta e… dois… minutos e quarenta e sete segundos na internet. Você é a pessoa que passa menos tempo na internet aqui no escritório. Olha aqui: Silveira, 54 horas no mês passado. Silvinha, 38 horas, sendo 30 no YouTube. Romeu, 28 horas, a maior parte delas no Orkut. Eu: 87 horas de internet.
- Chefe, eu posso explicar…
- Sérgio, isso não tem explicação. Pra mim, alguma coisa você está aprontando. A grande questão é: o que você está fazendo o dia inteiro neste escritório que você não está na internet? Você já ouviu falar em redes sociais? Você sabe o que significa a palavra social? Claro que não, Sérgio. Você é anti-social. Você é mais do que anti-social, você e anti-rede-social. Um psicopata!
- Mas, chefe, eu que juntei o povo pra ir no meu apartamento fazer um churrasco…
- E não foi ninguém, Sérgio. Porque você não sabe usar a porra do Eventos do Facebook. Mas não é nem essa a questão, Sérgio. A questão é que você precisa entender por que nós somos pagos. Você não está aqui pra ficar de brincadeirinha, ficar de papo no café, ficar fazendo amizadezinhas reais, como você disse no seu único post do Facebook.
- Chefe, eu prometo que vou entrar mais…
Gustavo Mini é do blog O Esquema e esse texto foi publicado na edição 46 da revista Noize (ótima, por sinal). Dá pra ver online aqui ou baixar o PDF aqui. ;)